Desenho de Ana Vasconcellos
Eu sei, estou sumida. Perdi-me no pulso das minhas entranhas. Explodi em mil coágulos sanguinolentos, negros, putrefatos. Nasci feto morto, me fiz mãe de seios sem filho para amamentar.
Escondi-me na solidão dos dias para não expor minha ferida que pulsa no compasso da culpa, por não ser a vagina que pari, a força de vida que traz a luz. E ao amparar aquela que se desfacela, eu me parto em mil pedaços.
Sou como um vitral caleidoscópico espalhado no chão. Espeto e sangro quem por aqui caminha. Entro em carnes e latejo como um espinho em um pequeno pé de menino.
Pulso, com a força de quem atua sem filtros, tentando chamar atenção da mãe que me vira as costas. Choro, sozinha, sentindo o lampejo da dor da orelha puxada, que faz o coração sangrar na dor de ser desprezado.
E quando ela me nega o amor, eu desabo. E no seu colo pequeno, me encontro em meu espaço. A mãe que não me ama, me vê, como soul. Um pouco grande. Um pouco pequena. Precisando de colo e alento, num silêncio de quem ouve o que sempre quis ouvir. De saber que estou cuidada, mesmo quando quero me esconder. Que o amor as vezes é espinho e sangue. Outras abraços. E tudo está certo.
Assim vou juntando os cacos e girando o caleidoscópio, buscando a luz que sempre brilhou, para que eu me veja, como soul.
Kali que bom que apareceu.
ResponderExcluirParece que sempre rebrilhamos a cada esfacelada. A cada queda, a cada caco que se vai, uma luz nova surge em algum lugar desconhecido. É preciso coragem para juntar-se novamente, e saber-se vulnerável a novas quebras. Necessárias para algum dia chegamos a nossos souls.