terça-feira, 19 de outubro de 2010

Conto sem ponto


Por: Kali
Imagem: Ana

Ela seguiu o cheiro de carne no ar. E do sangue que pingava no chão, com seus pés descalços começou a pintar o jardim de sua vida. Desenhou cenas tecidas com areias de uma duna efêmera.

Parou  à beira do abismo e sentiu a deliciosa vontade de saltar. Chegara a hora breve de partir? Ela só queria saborear o vento, sentir seu corpo se entregar ao vazio, sem pensar se a queda poderá causar-lhe ferimentos profundos.

Mas o momento que antecede a vontade de saltar a inebria fazendo-a esquecer tudo o que pintou até ali chegar.

Seduzida pelo cheiro do vento produzido por uma nuca que nem me lembrava mais existir, mas que de súbito apareceu, por obra do destino, a causar-lhe um mal/bem inexplicável, daqueles que fazem a gente imaginar que somos pássaros.

Por cima da neblina densa que impede de saber o tamanho da queda, ela acariciou as nuvens, passando cada molécula de água por todo seu corpo, deixando escorrer uma gota pelas por suas intimidades.
Gota que penetra, fecunda poemas esquecidos na biblioteca erótica. O quarto fora aberto e Kali saiu nua seduzindo as tropas, fazendo esquecer as guerras.Girando em volta da fogueira, em uma dança profana e onírica desenhou traços da sua vida, com sangue, pele, cheiro e instinto, desencontrando o ponto final para este conto. E ponto.

Um comentário:

  1. ah que boa vertigem que antecede ao salto! pula kali. você pula. beijos de gotas sagradas.

    ResponderExcluir