quinta-feira, 17 de março de 2011

Fim do Mundo?

Por: Kali
Desenho de Ana Vasconcellos



Um terremoto. A terra superficialmente se racha. Enormes ondas de sentimentos carregam tudo que está por perto. Não importa se rezaram todos os dias, se meditaram todas as manhãs ou tiveram pensamentos elevados.

A enorme onda, as rachaduras engolem todas as coisas pelas quais se mata e morre. Vão os carros, os sonhos, as famílias. Vão crianças pequenas, que começaram a andar, as que nem nasceram e nunca nascerão.

De toda parte vem explicações sobre estes acontecimentos: dos mais céticos aos mais místicos busca-se desesperadamente uma resposta para preencher este vazio doído do peito. Falta ar. Estamos imersos a pensamentos rarefeitos.

Na verdade somos uma poeira cósmica e nossa existência se esvai no tiro de um bandido, no câncer que nos corrói, nos sonhos que apodrecem e ganham nome de síndromes ou na passagem acelerada pela existência.

Tudo se vai e vem sem grandes explicações, com a simplicidade de uma pedra que encontra outra porque estão no mesmo rio.Buscamos um sentido urgente para nossa vida embora saibamos que tudo continuará igual, melhor ou pior de acordo com a ilha de edição que transforma determinada ficção em uma verdade.

A vida nada é. Somos nós que damos nomes, adjetivos, advérbios, sentido, objetivo, missão a todas as coisas.Somos nós e apenas nós que odiamos ou amamos Deus. Ou que tentamos explicar nossa ojeriza por barata ou afinidade por cogumelos. Buscamos respostas enquanto nos perdemos em mil perguntas cretinas.

Ao certo somos insignificantes, pequenos, frágeis. Ao certo somos importantes, inesquecíveis para alguém. Tudo que vive tem um sentido que atribuímos. Diante da morte somos egoístas: amamos mais nossos filhos, nossas casas, nosso ter. Agradecemos por não estarmos lá, embora nossa cara de tristeza nada mais é que alívio. Tentamos ajudar como podemos talvez para transformar o egoísmo em compaixão.

A gente nem sabe o que dizer para uma mãe que acaba de perder seu filho. Amamos mais o nosso. Diante das catástrofes pensamos mais na vida porque sentimos o cheiro da morte. Parece não fazer mais tanto sentido odiar o transito. A nossa vida para ter e comprar perde a finalidade. Nem é esse blá blá blá de missão da alma. É o chamado para seguir um impulso insano do coração, permitir-se ser aquela pedra que se lança as correntezas do rio.

Diante das tragédias humanas percebemos o que realmente nos tem valor. Encontramos também sentimentos esquecidos, sonhos malucos. Quanto maior o tremor, maior a onda, o eixo da Terra muda. Com ele o sentido de cada ser que habita e não adormece na falsa idéia de felicidade também inverte.

Chegará o dia que a inversão acontecerá completamente. Encaixaremos na pelve de nossas incertezas, envoltos por águas quentes e paredes apertadas, de ponta cabeça, indefesos, movidos por um medo incrível do desconhecido. Passaremos por um caminho estreito, escuro com cheiro de intimidades.

Talvez vivamos neste exato momento que antecede o parto esperando as contrações para que possamos nascer em uma nova instancia de nós.

Um comentário:

  1. tanta coisa querida. tanta coisa.
    estamos aqui gestando juntas as nossas perplexidades de vida e morte, de entranhas e de espírito.
    um abraço apertado

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