quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Para ex-terapeuta


Por: KaliDesenho: Ana Vasconcellos
Eu não quero despir minhas idiossincrasias e ficar nua e expondo minhas amarras corporais. Não quero pendurar na cadeira verde flácida que não me sustenta as meias partes de mim. Nem que você toque meu corpo.
Não quero deitar no chão e deixar meu coração aberto, exposto ao seu toque. Quero apenas sentar encolhida e dizer o quanto tudo isso está doendo aqui dentro. Não quero seu abraço, tão pouco sua voz que se força a ser meiga e acolhedora. Eu quero apenas que você sente e me ouça.
Sabe, quando te escolhi lá do céu e de novo agora eu queria aprender a ser amada e protegida. Eu só queria alguém que me protegesse profundamente das insanidades que me acomentem. Do meu medo de ser só, do meu pânico profundo de ser excluída.
Fui impedida de viver o meu direito de nascer. Privada do colo, do peito. Mas eu acho que eu escolhi isso. Escolhi essas feridas para que no caminho encontrasse o remédio, visse a mim mesma. Foi um plano meio doido  e doído que tracei para minha própria alma.
Eu tenho orgulho de ser eu. Por que só eu sei o quanto caminhei para chegar até aqui. Quantas vezes me perdi no amor, quantas vezes confiei cegamente nas pessoas e me espetei. Quantas vezes dividi  aquilo que eu sabia e me meti em terríveis enrascadas.
Eu sempre procurei alguém para acolher minhas estranhezas, para me amar apesar delas. Mas acho que eu mesma não consigo amar tantas delas. É difícil ser profunda e expandida além do mundo real. Pode ser um surto psicótico. Assim que chamam isso nesta terra?
Cansei de escolher as mães erradas e talvez galhos secos e mortos para me segurar na queda. Talvez por isso eu busque ajuda para, não mais querer lapidar com estacas as minhas arestas, mas acolher e encontrar a flexibilidade para ser feliz da maneira que eu sou.
Eu me senti abandonada e excluída. Já subi em mil palcos em que os aplausos eram silencio porque aquela que eu queria que aplaudisse era cega e surda.
Eu te vi fugir e se esconder, criar situações para na sua visão me proteger, mas que me feriu tão profundamente que neste momento me vejo aos pedaços, tentando entender o que o Universo quer me ensinar. A única resposta que me vem é sina. Escolhi o espelho de minha mãe uma outra que fez algo ainda muito mais dolorido. Isso porque eu sou capaz de sentir o amor que ela manifesta de sua forma, mas ainda sim, amor. Em você vejo apenas  um desejo de ajudar sem a capacidade de amar e acolher.
Voce nunca me acolheu. Em nenhuma de minhas situações reais de fragilidades profundas. Eu não sei quem você é. Eu não sei como esta história vai acabar. Só sei que eu não dou mais conta de me sentir assim e de novo, com coração aberto, feridas expostas e aquela que poderia com o calor das mãos amenizar a pulsão, ser aquela que futuca o tecido mais purulento.
Eu pensei, Mãe, que a gente podia ser amiga. Mais uma vez não foi possível. Mais uma vez eu fui largada no berçário frio sem peito ou colo e acolhida por uma Mãe da Mãe cheia de insanidades.
Talvez seja um teste para eu realmente questionar a missão da minha alma. E retornando para casa pensei em deixar tudo, como sempre fiz para que você pudesse ser plena em sua maternidade com a minha irmã. Penso como terminar este texto e não consigo. Dentro e fora de mim a menina chora, abraçada com seu ursinho, na tentativa de que as lagrimas saiam e curem as feridas remachucadas.

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