segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Páginas em branco e silêncio de mim




Tem tanta coisa. Um tempo que se abriu em tempos suspensos. Sem ontem, nem hoje, um ano que se foi em 10. Calendário de nuvens.

E eu voltei aqui para pedir desculpas por tudo que não foi, por tudo que eu não soube, por todos os buracos errados, todas as travessas de enganos fundos, todas as dores que não cessam. Pelas perdas, pelos desvios de quem nunca mais volta o mesmo, pelo tempo que nunca mais volta o mesmo. Por você que eu não soube, por você que foi me olhando distante e me pedindo de volta, por você que eu deixei escapar pelos dedos do meu próprio desajeito, por você que eu soube amar inteira e tanto. Assim eu fui e assim eu amei, sim eu amei, amei sem qualquer pedaço faltando, a não ser aquele que ficava bem ali, por entre a perplexidade e a dor do desacerto, aquele pedaço que eu custei a enxergar e abraçar com minhas pernas bambas de covardia. E assim o pedaço veio mas ele não cabia no amor, ele não era amor e eu não o amava. O nosso desacerto cresceu e ganhou asas de dragão, dragão que cuspiu fogo e devastou plantações inteiras do nosso jardim. Dragão de olhos acesos que não conseguiu queimar a vontade de flores e frutas no pé do que é nosso. 

Olho em volta e me reconstruo de novo, saindo e voltando de um lugar que eu não sei onde é. Páginas em branco e silêncio de mim. Linhas tortas que ainda não vêm.  Uma hora elas chegam, eu sei, elas hão de chegar vivas traçando caminhos de arco-íris, daqueles que eu aprendi a tirar da cartola - como um dia me ensinou o poeta. Eu estou só e eu me assusto. Assusto-me comigo assim, pálida diante do susto. Imóvel diante da queda. Essa não sou eu, e essa sou eu toda. Ame-me, baby, que eu sou tudo que posso ser renascida e crua.